Inferno meu

Tudo queima. O fogo reina aqui, e eu sou só mais uma. Nenhuma esperança me resta e meu corpo sofre um castigo eterno. Ninguém conversa aqui com ninguém aqui. Só esperamos pela tortura que chega a cada dia. Essa cela é insuportável, e as pessoas aqui fedem, mal consigo respirar. Digo que vai passar, mas nunca chega o fim. Nunca.
A porta se abriu lentamente. É ele com certeza. Abriu a porta e mandou que eles entrassem como de costume. Não sei quem são eles, mas não gosto. O cheiro da podridão na sua pele, seus corpos deformados e suas palavras ininteligíveis, sempre resmungando algo.
Um deles me escolhe. Todos os dias são assim, eles chegam, nos possuem e se vão. Todos os dias, a mesma coisa. A criatura ordena que eu fique de quatro pra ele. Não tenho escolha e obedeço. Suas mãos queimam minha cintura, e sua brutalidade me fere. O sangue escorre, mas nem chega ao chão. Evapora antes. Meus joelhos derretem por causa da posição. Meu corpo se corrói um pouco cada dia. Inexplicavelmente, ele sempre se recupera no dia seguinte, mas a dor não se vai.
Enquanto essa “coisa” me sadomiza, um misto de dor e prazer, lembro-me de como cheguei aqui. Os rostos deles antes de serem assassinados por mim. Matei mais de cem pessoas, brutalmente. Eles imploravam por suas vidas, mas eu continuava batendo, dilacerando e usando os tipos de maldade mais variados. Lembro-me sempre daquele homem, casado com três filhos, que sempre me elogiava na rua. Sua aparência era perfeita. Seu sorriso malicioso e suas cantadas perfeitas. Foi o que eu mais gostei de matar.
Era uma tarde de domingo, ele havia me chamado pra beber um pouco e conversar. Sei bem a conversa que ele queria, os homens são tão fáceis de decifrar. Sexo ou dinheiro. Ou os dois. Deixei me levar por suas palavras e ele me levou pra sua casa. Disse que a mulher e os filhos estavam com a avó e que chegariam somente na manha seguinte. Disse que poderíamos desfrutar daquele momento com tranqüilidade.
Sua casa era muito grande e bonita. Ele me levou para um quarto enorme, bem aconchegante. Espalhados por ali, estavam fotos de família, todos juntos e sorrindo. Desgraçado. Eu já ate sabia o que fazer com ele.
Olhei para ele e perguntei o que ele queria comigo, me fazendo de inocente. Ele me pegou com força e me jogou em cima da cama. Suas mãos eram fortes e ele me agarrava com voracidade. Tirou toda minha roupa enquanto sussurrava o que iria fazer comigo. Dizia que ia me foder com força, que eu ia adorar as coisas que ele fazia. Entreguei-me ao momento, pensando no que eu ia usar para cortar esse verme.
O sexo foi violento e interminável. Parecia que ele não comia a mulher há uns dez anos, pelo jeito que ele estava. Fiz tudo que ele quis, e o que eu quis também, claro. Nem me lembro quantas vezes gozei e nem fiz questão de contar às vezes que ele gozou. Fodemos em todas as posições que eu conhecia, e ele me apresentou algumas novas.
Quando terminamos, ele já fazia planos para a semana que vem. Pobre coitado. Mal sabia que ia ver a família toda morrendo e que logo depois seria assassinado brutalmente. Era assim que eu fazia: Trepava e depois matava a família toda. Eu deveria era ganhar uma medalha por acabar com esses porcos infiéis. Matar os filhos e a esposa era como um castigo. Obrigava ele ver tudo, pra se culpar cada segundo que passava.
Um soco me trouxe de volta pra cá, nesse inferno. Tudo dói e meu corpo está jogado no chão. Escuto os gritos que vem de longe. Pessoas choram e gritam se lamentando. Odeio tudo isso. Pensavam que iam fazer todos os seus crimes e todas as suas fornicações e terminar numa boa? Ah sim, claro.
Eu jamais senti remorso, na verdade eu sempre achei era bom. Todo esse fogo, toda essa dor, e já que sei que vou sofrer por toda eternidade, eu só penso em uma coisa: Eu devia era ter matado mais!

3 comentários:

  1. Anônimo disse...

    Não sei o que pode ser melhor eu imaginar ela torturando ele,ou eu imaginando ela se dando mal,pois eram dois malditos,bela história.

  2. Lilian disse...

    Instigante.
    Te sigo.
    =*

  3. wanessa g. disse...

    Quando quero sentir arrepios venho aqui..rs
    Belo texto.

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