Dançar...


Os olhos dele pareciam duas pedras preciosas a me encarar. Todo mundo já tinha percebido e eu, me fazia de desentendida. As luzes fluorescentes da casa, pareciam feitas por encomenda para aquela noite. No meio da multidão, todos estavam se divertindo muito. Eu dançava na frente dele, fazendo tudo que as outras não tinham coragem nem de pensar. Ele apenas observava, sem nada a dizer. Foi quando eu investi e o beijei. Seus lábios eram doces como um bolo de aniversário. Os seus braços me envolveram num abraço mortal, fazendo eu me sentir literalmente nas nuvens.
Conversamos um pouco sobre tudo. Sobre música, sobre festas, sobre amigos... E descobrimos que tínhamos muito em comum. A banda favorita dele era a mesma que a minha. Discordamos apenas nas canções. Ele preferia “Tainted Love” e eu “Heart-Shaped Glasses".
Eu morava sozinha já fazia mais de um ano. Os meus pais se divorciaram e eu não quis ficar com nenhum deles, preferi a casa. Convidei-o para ver uns vídeos comigo, e digamos de passagem que eu nunca chegaria a ligar a T.V.
Logo na entrada da casa, ele me apertou com força e me jogou contra a parede, fazendo as lascas caírem. Com uma tremenda força, ele me beijava sem se importar em ser correspondido. Foi ali que ele errou. Existem horas que a uma garota prefere tomar frente no campo de batalha, e aquela era uma. Estava cansada de homens que acham saber tudo, e nem davam a mínima se eu gostava ou não.
Deixei ele brincar um pouco comigo, fiz ele acreditar que seria fácil. É bem provável que ele estava acostumado com aquela situação. Claro, aproveitei também, mas pra ser sincera, não estava nem um pouco interessada em sexo com aquele cara, não mais. Pelo menos ainda não.
Quando entramos, ele logo foi tirando a camisa e mostrando seu corpo pra mim. Ele chegava a ser tão pálido quanto eu. Várias tatuagens cobriam seus braços e peito.
Já no quarto, mostrei a ele minha cama e pedi pra que ele esperasse nela. Fui até a cozinha e peguei um brinquedinho para ele. Olhei para minha arma, linda, reluzente como sempre. Um espelho pra mim.
Alguns homens só aprendem quando coisas terríveis acontecem e não posso dizer que essa seria a primeira ou a última vez. Quantos homens eu havia trazido pra cá e fiz o que fiz pelo mesmo motivo. Controle. O mais difícil era me livrar do corpo. Um riozinho passava há algumas ruas dali, mas eu era frágil e esses caras geralmente eram bem mais fortes que eu.
No quarto ele estava impaciente e despido. Chamou-me com certa arrogância, à de quem já conseguiu o que quer. Uma palavra define esse tipo de gente, e é “morto”.
Joguei-me na cama e abracei o seu corpo, o deixando tentar me despir. Quando eu fiquei nua pra ele, seu sorriso ficou estremecido. Algo como, “Ual”. Seus dedos tocavam minha intimidade e eu me entreguei um pouco. Eu mereço ter um pouco de prazer não? Deixei que ele me fizesse gozar umas quatro vezes antes de permitir que ele me penetrasse. A cara dele era impagável. Se ainda houvesse algum charme nele, teria ido embora naquele exato momento.
Seu corpo se debatia com força contra o meu, e os seus gemidos me deixaram sem entender nada. Ele mais parecia um virgem do que o cara experiente que todo mundo falava.
Tomei o controle e montei nele. Fiz tudo sozinha, e devo admitir que eu chegava perto da perfeição. Ele sussurrava coisas pra mim, coisas sem sentido algum. Literalmente, eu fiz sexo com um boneco. Trepei comigo mesmo, meus dedos seriam bem melhor do que ele. Ouvi em meio aos seus gemidos, as palavras “Me chupa logo, foi pra isso que eu vim”. Claro, agora sim eu faço o que ele quer. Chupei até seu pau ficar enorme e latejando. Agora era hora da minha surpresa. Peguei a faca no meio das minhas roupas e com bastante destreza eu decepei seu órgão. Os gritos davam pra serem ouvidos há quilômetros de distancia. Talvez eu tivesse extrapolado dessa vez, mas eu continuei. A dor que ele sentia o deixou vulnerável pra mim. Cortei tudo, e ainda fiz várias marcas em seu corpo. Senti que ele me socou, mas não consegui ver. Seu punho batia com força na minha cara, e então, desmaiei.
Acordei numa sala branca, cheia de pessoas a minha volta. Minha mãe e meu pai estavam ali, com seus respectivos amantes. O médico dizia que logo eu ia me recuperar do trauma e que poderia ir pra casa. Meu pai se aproximou de mim e disse que aquele cara estava no hospital da penitenciária e que ele não sobreviveria, provavelmente. A polícia tinha deduzido, pelas marcas na entrada da casa, as lascas da tinta na parede, que eu tinha apenas me defendido de um cara violento, e que ele pagaria pelo que fez comigo.
Não acreditei no que ouvi, mas não pude deixar de sorrir para meu pai. Eu tinha feito o que eu queria, praticamente assassinado um rapaz e ainda era uma heroína? Essa é a justiça que vivemos.
Fiquei sendo paparicada pelos meus familiares, ouvindo histórias de como eu fui descuidada, de que eu não tinha responsabilidade, mas que mesmo assim, estavam contentes que eu tivesse me safado com vida daquele marginal.
Pensei em todos aqueles corpos que eu joguei no rio, se um dia viessem à tona, e se de algum modo, ligassem a mim... Devo aproveitar minha liberdade. Assim que meu rosto estivesse completamente curado, eu iria com certeza “dançar” um pouco mais!

Succubus


Naquela noite, tudo parecia tão normal. Arrumei meu longo cabelo da cor do sangue escarlate, que parece ter sido feito para matar. E é. Como de costume, desci até o porão para verificar como estavam meus “hóspedes”. Os gemidos e gritos avisavam que eles já sabiam que eu estava descendo. Toda noite, eu escolhia um, apenas um que iria saborear o gostinho da vida, antes da sua morte. Esse me possuiria, como os humanos dizem em suas horas de maior prazer. Os outros, serviriam apenas de comida pra mim. Apontei para um louro que estava encolhido no canto. Ele era encantadoramente lindo. Seus olhos azuis, quase irreais, me deixaram louca. Olhei para ele e com um gesto sensual, o chamei pra mim. Em segundos ele se levantou e caminhou para mim. Os humanos ficam hipnotizados com minha presença, não tem sequer escolha. Saímos do porão, e tranquei bem a porta.
Enquanto subíamos as escadas, dei uma olhada de leve para meu querido amante, que morreria hoje com toda certeza. Seus olhos faiscavam pra mim. Sua mente só pensava em uma única coisa: Sexo. Era basicamente isso, todos eles me desejavam, e eu, bem eu aproveitava ao máximo ante de matá-los.
Assim que chegamos ao quarto, retirei meticulosamente meu vestido transparente, deixando um corpo perfeito à mostra. Corpo esse que com certeza não era feito por deus.
Meu amante ficou extasiado com a visão e logo tratou de se despir por completo. Sentei na beirada da cama e abri as pernas num sinal convidativo. Ele ajoelhou perto de mim e começou a fazer exatamente o que eu queria. Sua língua dançava no meu sexo. Senti que estava gozando, deixando que ele sugasse minha libido pra dentro de sua boca. O prazer era tanto que quase me esqueci que era um humano ali. Apertei seu pescoço com tanta força, que ouvi o seu grito e dor, quando minhas unhas dilaceraram a carne. Eu o agarrei e lancei com força na cama. Os olhos esbugalhados dele já não eram tão sensuais, mas mesmo assim, eu iria transar com ele, morto ou vivo. Deitei por cima dele, e sentei no pau dele, que ainda estava duro. O desejo foi tanto, que eu deixei meus gritos chegarem aos céus.
Ele se mexeu bem devagar, e me mostrou que ainda estava vivo. Apenas acelerei meu ritmo e continuei montada em cima dele.
Durante o sexo, eu arranhava suas costas, fazendo o sangue nos banhar, lentamente. Ele gemia intensamente de prazer e chegou a tentar mudar de posição. Eu deixei, como boa vadia que sou. Ele ficou em cima de mim e tentava fazer força, em vão. Eu agarrei na cintura dele e o movimentei como uma marionete, para frente e para trás, numa velocidade inumana.
Senti ele gozar dentro de mim, e era maravilhoso! Aquela sensação, de consumar o pecado, deleitando-se com cada instante.
Quando acabamos ele virou para o lado e ficou encarando o teto. Eu queria mais, e estava disposta a ir buscar outro “lanchinho” no porão, caso ele não me agüentasse mais.
Levantei e fiquei de quatro pra ele, olhando para trás. Como um raio, ele se colocou de pé e me agarrou por trás. Sua mão me apertou com força. Suas unhas fincavam em minha pele, machucando-as, mas curando no mesmo instante. Os gemidos que ele emitia, significava que logo ele estaria pronto para o inferno. Eu gozei e foi bom, mas nada mais que isso. Me levantei e apertei o seu pescoço, fazendo o ar faltar nos seus pulmões. Ele ficou roxo e perdeu todo aquele charme de antes. Matei-o, como mato todos os outros.
Depois, somente o descarte. Consumi sua carne lentamente, começando pelo cérebro.  A parte mais gostosa pra mim, sem dúvida. Cortei seu peito e removi o coração. Eu o devorei com tanta voracidade que cheguei a morder meus próprios dedos no processo.
Eu adoro quebrar os ossos da vítima já sem vida. É como se , já que está morto, por que naão aproveitar um pouco mais? Desmembrei cada parte de seu ínfimo corpo e fui descartando o que eu não queria devorar. Joguei os poucos restos fora, sem me preocupar se alguém vai encontrar. O que me resta agora, pra um consolo, eram uns prováveis vinte homens fortes, que serviriam pra saciar meu infinito prazer, e depois, minha real fome. Minha fome de morte, de carne.
Talvez eu esteja sendo desleixada por que queira que isso acabe logo. Quanto mais tempo se vive entre os humanos, menos vingativa e descontente se fica.
Isso não é uma justificativa para as mortes que eu acarretei, não me leve a mal. A verdade é que eu simplesmente AMO o gosto da morte. Na verdade, fui criada pra isso não?
Deixei de fazer as coisas segundo as regras há muito tempo. Não me importo mais se “ele” vai “subir” aqui e me mandar de volta pra lá. O fato é que, o ardor das vitimas em minhas mãos, a sensação de arrancar a alma de alguém, lentamente, sentindo cada pedaço da carne viva... Isso me deixa louca, é um prazer sexual as ver implorando por um pouco mais.
Matei cada homem que estava ali, naquela mesma noite. Uns duraram mais, outros menos. Uns, imploravam por um pouco mais do meu prazer, outros, mal conseguiam abrir a boca pra respirar.
Suja de sangue e imunda no meu interior - O sêmen de vinte e um homens dentro de mim - saí com o corpo despido pela madrugada, à procura de uma nova vítima, um novo lar temporário. Logo, pelo menos uma cria iria nascer de mim. Logo, Terei uma companhia duradoura pra me acompanhar em minha atrocidades.
Meus olhos, perfeitos como o céu noturno, um dia podem cruzar o seu caminho, então cuidado, eu não faço distinção entre sexos, cores ou qualquer outra coisa. Todos são, vítimas em potencial.
Nada pode me parar.

Só isso

Espero que passem todos os latidos em minha mente.
Quero logo estar aqui, de novo.

Quem é a vadia agora?

Senti um leve tremor no corpo e assim, despertei.
Sem abrir os olhos, respirei fundo pra  saber onde eu estava.
Não me lembro de absolutamente nada, a festa de ontem foi fodástica. Bebi mais que devia, mas fiz exatamente o que eu quis. As lembranças que tenho, vem de antes um pouco de... Claro! Começo a me lembrar. Aquele cara que eu sempre dei mole veio com sua conversa vulgar pra cima de mim. Adorei. Ele me disse que estava passando o fim de semana na casa de um amigo que morava sozinho. Também disse que esse mesmo amigo era o “rei do pedaço”. Se alguém quisesse alguma coisa, era só falar com ele. “Alguma coisa, referia-se a drogas com certeza. Apenas me deixei levar pelo seu “papo”, porque também me era interessante.
Conversamos e dançamos a noite toda, deus, esse garoto era tão bom que parecia de mentira! Sua voz me deixava completamente desorientada, cheguei a perder até o rumo algumas vezes. Pra falar a verdade, mal me lembro o que conversamos. Papo furado e álcool em excesso são as únicas coisas que me lembro.
Ele sempre chegava mais perto quando percebia que algum outro rapaz olhava pra mim. Eu adoro quando um homem faz isso, me deixando em posição de destaque. Seus lábios quase tocavam meus ouvidos quando ele tentava falar algo mais “quente” pra mim.
Finalmente ele disse às palavras que eu queria ouvir, me convidou pra ir à casa de seu amigo, pra ficarmos mais a vontade. Aceitei sem pestanejar, afinal não seria nada mal ficar relaxada em seus braços...
No caminho, falou como quem tem um desejo por sexo quase insuprível, as coisas que ele dizia, me deixaram com tanto tesão, que eu já estava me tocando, pensando em como seria...
Chegamos logo nessa casa e já fomos direto pro quarto. Eu estava tão bêbada, que mal me agüentava, mas pro sexo, eu ficaria acordada mais algumas horas. Ele pegou uma cerveja na geladeira que tinha ali e jogou pra mim. Antes que eu pudesse beber, ele me deu um comprimido. Seu sorriso tinha tanto prazer que não perguntei o que era, apenas tomei.
Queria que as coisas fossem do meu jeito, então, o joguei na cama e tirei toda sua roupa. Beijei seu peito nu e fui descendo lentamente, até chegar onde eu queria. O chupei até sentir que ele latejava de tesão dentro da minha boca. Então, quando eu parei e olhei pra ele, senti meu corpo de uma maneira estranha. Não tinha mais controle sobre mim.
Caí desfalecida no chão e o ouvi dizendo alguma coisa bem alta, talvez chamando alguém.
Conseguia ver tudo o que acontecia, mas não conseguia reagir de maneira nenhuma.
Seu amigo entrou pela porta e me examinou por alguns segundos. Seu olhar percorreu todo meu corpo e parava nas minhas partes intimas. Ele me desejava. Queria foder comigo igual se fode com uma puta barata.
O que aconteceu depois não pode ter sido chamado de sexo. A violência com a qual me trataram, fez eu me sentir um animal por dentro. Eles se revezam pra me comer. Enquanto um comia, o outro filmava tudo, se tocando em todo processo. Fiquei indefesa e não pude fazer nada.
Eram como animais. Batiam, chingavam e cuspiam em mim, como se eu fosse uma boneca inflável. Consegui ver que de vez em quando, paravam pra fumar um cigarro e cheirar um pouco. Logo em seguida voltaram com a sua carnificina sobre mim.
Desejei ser mais esperta. Por que raios eu não ouvi minha mãe? Seus conselhos seriam úteis nessa hora. Tentei me lembrar de alguma coisa mais nada vinha a minha cabeça.
Abri lentamente os olhos e vi que eles estavam dormindo, um na cama comigo e o outro no chão, jogado. Acho que exageraram na dose das drogas que usaram ontem, e meu corpo já era forte contra remédios. Eles não sabiam, mas eu era viciada em L.S.D. O provável “boa noite cinderela” que me deram não teve tanto efeito assim.
Devagar, caminhei até o corredor e fui para o que eu achava ser uma cozinha. Procurei por uma faca, mas não consegui achar. Andei pela casa calmamente e comecei a abrir as gavetas. Aqui era a casa de um traficante, tinha que ter uma arma.
Achei uma bereta em baixo de uns livros sobre psicologia. Irônico.
Se eu fosse uma garota normal, sairia dali o mais rápido que conseguisse. Mas eu não era. Fui até os dois e estavam do mesmo jeito que os deixei. Cheguei bem perto e apontei pra cabeça do que estava no chão. Era o dono da casa e logo estaria queimando no inferno.
Atirei e vi os seus miolos se espalharem por todos os lados. O sangue que saía dele, era um sangue ralo, chocho, nem parecia sangue. Tive um orgasmo mental enquanto me virava para apontar para o outro “lixo” que estava em cima da cama. Para minha surpresa ele estava sentado na cama aparentemente esperando o seu destino. Mirei pra ele e atirei, apenas pra ouvir o clique seco do revólver. Meus pés começaram a tremer e fui tomada por um medo supremo.
Ele sorriu e lentamente caminhou em minha direção. Tentei correr mais tropecei e caí sozinha no chão. Meu corpo nu encostou-se ao sangue que estava no chão e então, soube que era o meu fim. Ele se abaixou e sussurrou no meu ouvido as seguintes palavras: “Sabe como matamos vadias como você? Queimamos em meio aos pneus, pra que ninguém descubra quem é”.
O tremor em meu corpo fez as lágrimas brotarem no canto de meus olhos. Senti-me uma presa indefesa diante de seu mais cruel predador.
Procurei por uma resposta nas profundezas de meu enegrecido coração.  Deixei que meu lado animal viesse a tona. Naquele momento eu sabia o que tinha que fazer. Falei baixo de mais, só pra tentá-lo a chegar mais perto de mim. No momento em que ele chegou perto o bastante, mordi seu pescoço com tanta força que dilacerei sua veia principal. Levantei-me calmamente e fiquei sentada na beirada da cama o vendo agonizar. A forma como ele se retorcia de dor, tentando gritar, se rebatendo... Simplesmente me deixou em puro êxtase!
Olhei vitoriosa para os cadáveres e ri sarcasticamente. Saí daquela casa imunda com o vibrante triunfar nos meus olhos.
Na porta, olhei para trás, deslumbrando a bela morte que ali havia. Vi a dor nos seus olhos e disse pra mim mesma: “Quem é a vadia agora seus fracassados?” Não contive a felicidade enquanto ia embora dali.
Coloquei os fones de ouvido do meu celular e deixei que tocasse “Tears Don’t fall” da banda “Bullet for My Valentine” enquanto procurava o caminho de casa. Espero ansiosamente por outras festa dessas!

Inferno meu

Tudo queima. O fogo reina aqui, e eu sou só mais uma. Nenhuma esperança me resta e meu corpo sofre um castigo eterno. Ninguém conversa aqui com ninguém aqui. Só esperamos pela tortura que chega a cada dia. Essa cela é insuportável, e as pessoas aqui fedem, mal consigo respirar. Digo que vai passar, mas nunca chega o fim. Nunca.
A porta se abriu lentamente. É ele com certeza. Abriu a porta e mandou que eles entrassem como de costume. Não sei quem são eles, mas não gosto. O cheiro da podridão na sua pele, seus corpos deformados e suas palavras ininteligíveis, sempre resmungando algo.
Um deles me escolhe. Todos os dias são assim, eles chegam, nos possuem e se vão. Todos os dias, a mesma coisa. A criatura ordena que eu fique de quatro pra ele. Não tenho escolha e obedeço. Suas mãos queimam minha cintura, e sua brutalidade me fere. O sangue escorre, mas nem chega ao chão. Evapora antes. Meus joelhos derretem por causa da posição. Meu corpo se corrói um pouco cada dia. Inexplicavelmente, ele sempre se recupera no dia seguinte, mas a dor não se vai.
Enquanto essa “coisa” me sadomiza, um misto de dor e prazer, lembro-me de como cheguei aqui. Os rostos deles antes de serem assassinados por mim. Matei mais de cem pessoas, brutalmente. Eles imploravam por suas vidas, mas eu continuava batendo, dilacerando e usando os tipos de maldade mais variados. Lembro-me sempre daquele homem, casado com três filhos, que sempre me elogiava na rua. Sua aparência era perfeita. Seu sorriso malicioso e suas cantadas perfeitas. Foi o que eu mais gostei de matar.
Era uma tarde de domingo, ele havia me chamado pra beber um pouco e conversar. Sei bem a conversa que ele queria, os homens são tão fáceis de decifrar. Sexo ou dinheiro. Ou os dois. Deixei me levar por suas palavras e ele me levou pra sua casa. Disse que a mulher e os filhos estavam com a avó e que chegariam somente na manha seguinte. Disse que poderíamos desfrutar daquele momento com tranqüilidade.
Sua casa era muito grande e bonita. Ele me levou para um quarto enorme, bem aconchegante. Espalhados por ali, estavam fotos de família, todos juntos e sorrindo. Desgraçado. Eu já ate sabia o que fazer com ele.
Olhei para ele e perguntei o que ele queria comigo, me fazendo de inocente. Ele me pegou com força e me jogou em cima da cama. Suas mãos eram fortes e ele me agarrava com voracidade. Tirou toda minha roupa enquanto sussurrava o que iria fazer comigo. Dizia que ia me foder com força, que eu ia adorar as coisas que ele fazia. Entreguei-me ao momento, pensando no que eu ia usar para cortar esse verme.
O sexo foi violento e interminável. Parecia que ele não comia a mulher há uns dez anos, pelo jeito que ele estava. Fiz tudo que ele quis, e o que eu quis também, claro. Nem me lembro quantas vezes gozei e nem fiz questão de contar às vezes que ele gozou. Fodemos em todas as posições que eu conhecia, e ele me apresentou algumas novas.
Quando terminamos, ele já fazia planos para a semana que vem. Pobre coitado. Mal sabia que ia ver a família toda morrendo e que logo depois seria assassinado brutalmente. Era assim que eu fazia: Trepava e depois matava a família toda. Eu deveria era ganhar uma medalha por acabar com esses porcos infiéis. Matar os filhos e a esposa era como um castigo. Obrigava ele ver tudo, pra se culpar cada segundo que passava.
Um soco me trouxe de volta pra cá, nesse inferno. Tudo dói e meu corpo está jogado no chão. Escuto os gritos que vem de longe. Pessoas choram e gritam se lamentando. Odeio tudo isso. Pensavam que iam fazer todos os seus crimes e todas as suas fornicações e terminar numa boa? Ah sim, claro.
Eu jamais senti remorso, na verdade eu sempre achei era bom. Todo esse fogo, toda essa dor, e já que sei que vou sofrer por toda eternidade, eu só penso em uma coisa: Eu devia era ter matado mais!

Mudanças


Quando cheguei à escola tinha um menino caído no chão enquanto outros três se afastavam dele. Perguntei o que tinha acontecido e ele disse pra deixar pra lá. Me emputeci e joguei o caderno na cabeça de um dos três que saíram. Ele olhou pra traz com uma cara de ódio e correu até minha direção, mas os outros dois o seguraram. Dizia que eu era uma menina e que me bater era acarretar suspensão. Ele deu de ombros e ficou resmungando alguma coisa.
O garoto do chão estava de pé do meu lado, rindo como um retardado. Parecia feliz com aquilo, então também sorri. Ele estendeu a mão e disse que se chamava Nicolas.  O levantei  e disse que me chamavam de Raika. Conversamos durante a aula e descobrimos que tínhamos muito em comum, música, desenhos, livros, coisas do tipo. Chamei-o pra minha casa depois da aula, disse que meus pais estavam no trabalho que podíamos ficar tranqüilos até por volta das sete da noite. Eu queria mesmo era uma transa, nossa já fazia um século que eu não dava pra ninguém, e ele parecia legal. Ele topou ainda que relutante. Ótimo!
Depois da aula fomos juntos chegamos a minha casa e logo chamei pro meu quarto. Puxei-o pra perto de mim e o beijei com força na boca, cheguei a machucá-lo, sentindo o gostinho do sangue escorrer. Ele ficou meio assustado, mas logo cedeu, e começamos a foder. Eu fiz praticamente tudo, como eu gosto. Depois de trepar por duas horas, tomamos um banho e ouvimos musica até seis horas. Antes de sair, ele me beijou e disse que a escola nunca mais seria a mesma.
No outro dia quando cheguei, ele estava lá, quieto, mas com maldade nos olhos. Percebi que tinha uma comoção no pátio e resolvi ir até lá primeiro. As meninas diziam que um garoto tinha saído pra jogar e não tinha voltado. Perguntei pra uma ruivinha, que parecia a mais simpática, quem era o cara. Ela olhou pra mim e disse que era o garoto que eu tinha jogado um caderno na cabeça ontem. Todo mundo me olhou com uma cara de medo, e logo se dispersaram. Estranho, mas era assim que as coisas aconteciam. Isso era justiça divina. Bem feito pra ele.
Corri pros braços de Nicolas e nos beijamos. Senti um tom de comemoração nos olhos dele. Perguntei o que era e ele disse que já tinha me avisado. “A escola nunca mais será a mesma”. Esse garoto só me impressionava, será que ele tinha algo a ver com o desaparecimento daquele menino? Tomara que sim. Espero que ele tenha judiado bastante dele.
Quando acabaram as aulas, ele me chamou para ir à sua casa, pra ficarmos mais a vontade. Claro que eu topei, mais uma tarde de sexo, pensei.
Chegando lá, ele me levou para um quarto no fundo da casa e antes de abrir a porta disse pra eu não gritar. Foi aí que vi que o garoto desaparecido estava lá, amarrado em uma cadeira, todo machucado.
Sorri e perguntei o que ele pretendia. Vi que tinha uma câmera no canto do quarto. Ele começou a tirar a roupa e vir até mim. Adorei a idéia e fui logo tratando de tirar a minha também. Transamos ali, na frente do garoto. Ele tentava se mexer, mas estava bem amarrado. Nicolas me pegava de um jeito que nem parecia o mesmo de ontem. Eu gemia e fazia tudo que ele mandava. Depois de algumas horas de selvageria, ele me pediu pra pegar a marreta que estava do meu lado. Peguei e enquanto ele gargalhava. Foi em direção ao garoto e acertou com tudo bem no meio do seu joelho. Ele tentou gritar, mas não conseguia, a dor era muita. Nicolae batia em todas as partes do corpo dele enquanto falava consigo mesmo. Levantou  a marreta e acertou com tudo na cabeça do garoto. Acho que nem em filmes ou livros, eu tinha visto algo tão nojento. O sangue espirrava e sujava tudo que era canto. Nicolas se divertia e batia de novo, mesmo sabendo que o garoto estava morto.
Quando se cansou olhou pra mim e me mandou chegar mais perto. Aproximei-me e ele me abraçou, todo ensopado de sangue. Pensei que ia sentir nojo ou repulsa, mas o cheiro me deixou quase que delirando. Sangue e sexo. Transamos de novo, todos sujos com o sangue ainda quente daquele estúpido.
Assim que acabamos, contou que morava sozinho há alguns anos e que não precisavamos preocupar com nada. Trancou a porta do quartinho e subimos pro seu quarto de verdade. Tomamos um banho juntos enquanto ouvíamos Rammistein, que eu tanto adorava. Ele foi explicando que já fazia isso há algum tempo, e que sempre dava um jeito de jogar a culpa em alguém. Fingia ser o coitadinho da escola pra saber quem eram os valentões do pedaço e depois os matavam.
Admirei-me ainda mais por ele. Combinamos quem seria a próxima vítima, os outros dois garotos que faziam parte do grupo. Sabíamos exatamente o que iríamos fazer, eu iria seduzir os dois, e levá-los pra casa do Nicolas. Lá, daríamos jeito neles.
Na escola, cheguei perto dos dois e comecei a falar sobre coisas picantes, esses garotos são muito tarados. Disse que eu tinha vontade de sentir os dois em mim de uma única vez. Claro que eles ficaram se achando. De longe Nicolas observava sem nenhuma expressão no rosto. Convidei-os pra ir na “minha” casa e mal se contiveram de tesão.  Eu quase não agüentei por dentro. Queria rir, como era fácil enganar os homens, eram todos iguais, exceto Nicolas, é claro.
Chegando lá, um deles pegou o celular e mexeu um pouco, mas só isso. Entramos e fui logo levando eles pro fundo da casa. Lá estava o quartinho, Nicolas devia estar esperando com alguma arma pra matá-los. Abri a porta e assustei ao ver que não tinha ninguém, nenhum corpo e apenas um colchão jogado no chão. Estava tudo limpo. Nenhuma gota de sangue. Nem sinal do meu querido.
Os garotos vieram me segurando e eu fui entrando na dança, logo meu salvador chegaria e acabaríamos com aquilo. Mas ele não chegou. Eu vi que a câmera estava ligada então entendi, era parte do plano, ele devia estar assistindo em algum lugar.
Dei com vontade pros dois, fiz até caras e bocas pra câmera. Aquilo me excitou, eu fui gozando e gozando e parecia nunca acabar. Escutei um barulho na porta que os dois não perceberam, era Nicolas, com um revolver e atirou em um dos garotos. O outro olhou assustado sem entender. Antes que ele falasse qualquer coisa Nicolas atirou nele também e o sangue encharcou tudo, e eu adorei.
Nicolas me beijou e começou a me acariciar. Entreguei-me e fizemos sexo de uma maneira tão selvagem, em meio a dois corpos mortos. Era simplesmente muito excitante aquela sensação.
Vi um pouco de tristeza nos olhos dele. Quando perguntei por que ele estava com aquela cara, ele sorriu e me disse bem perto do meu ouvido: “O pior de tudo é que de você eu realmente gostei. Vou sentir sua falta”.
Senti algo quente escorrendo de mim e olhei para ver o que era. Sangue, e era meu. Ele tinha me cortado nos seios, um corte profundo e preciso, que acertou em cheio o meu coração. Eu não compreendia nada. Ele havia me matado também? Mas por quê?
Ele começou a jogar gasolina pra todo lado e eu ainda podia sentir um pouco de dor. Ele me disse que um dos garotos havia ligado pra mãe e que ela tinha chamado a polícia, logo a casa estaria cercada. Vi quando ele jogou um palito de fósforo e o fogo invadiu o lugar. Tudo se consumiu muito rápido e mal senti meu corpo queimando. Era o fim. Ainda pude ouvi-lo dizendo que me amava antes de fechar a porta e ir embora.
Nicolas foi embora pra próxima cidade, trocando de nome e aparência. Ninguém jamais achou o corpo de Raika, mas encontraram os corpos dos três garotos, queimados e mutilados.
Em uma coisa ele estava certo “A escola nunca mais será a mesma”.

Podre Ilusão

Não posso acreditar nisso. Seu sorriso me fere. Depois de tudo que você me fez. Te o ofereci carinho e minha vida. Me entreguei . Desobedeci as leis por sua causa e perdi minhas asas pra ficar aqui. Sempre estive por perto quando precisou e o que ganhei em troca? Traição, desprezo.
Ouvi dos seus amigos que eu não passava de mais uma, que estava comigo por que eu “trepava” gostoso. Sabia de tudo, mas aceitava. Acreditava que um dia, você iria dizer pra todos eles que me amava e que eu era a mulher de sua vida. Diria que aquela vida fútil e inútil que havia levado tinha acabado e agora, construiria uma família comigo.
Como pude ser tola a ponto de acreditar em um ser humano patético como você? Dizem que o amor é cego. Não, a ignorância é cega. Todas as noites quando chegava fedendo a cigarro e bebida, sabia onde você estava, mas me enganava. Eu sempre soube que você estava com “ela” seja lá quem fosse, ou quantas foram.
E quando precisei de você ganhei um sonoro “não”. Disse que tinha outros planos, que era melhor terminarmos, pois não estava dando certo. Disse que já não era como no começo, já não me amava. Me tocou o rosto, e teve coragem de pedir uma despedida.
Topei uma ultima vez na cama, afinal, era sua vontade, não era? Não me amava, mas “foder” sempre é bom. Verme. Eu não entendo como não consigo te odiar.
Me tocou com suas mãos sujas como se eu fosse um monte de lixo. Aproveitou cada segundo comigo. Acho que já tinha outra vagabunda te esperando, caindo no seu papo como eu acreditei. Me entreguei por inteiro. Fazia tudo o que você queria e ainda tolerava suas mancadas.
Te distrai para pegar minha faca. Fiz exatamente o que você merecia: uma morte lenta e agonizante. Cortei seu pescoço, um corte longo, mas não muito fundo, pra que você não perdesse o sentido de uma vez. Afundei apenas o bastante pra você se sentir fraco, e não reagir. Vi o sangue escorrendo e aquilo sim, me deu prazer de verdade, sua dor.
Fiz você se sentir como eu me sentia toda vez que você me chamava por outro nome.  Quando você atendia o celular e dizia que estava com uma “amiga” e que logo iria embora. Todas as vezes que você saiu sem dar explicação. E me agradou, ver você ir embora pra sempre de minha vida, sentir o sangue quase púrpura escorrendo entre meus seios. Você morria lentamente e ainda assim, sorria.
Tentou sussurrar suas ultimas palavras, disse “me perdoe”. Já tinha ouvido aquilo mil vezes, e não mais acreditava. E ainda continuou sorrindo.
Teus olhos brilharam pela ultima vez, e então se fecharam. Você se foi. Agora poderia continuar minha vida de onde parei, exatamente no dia em que te conheci. No dia em que abdiquei de minha vida para viver junto ao cafajeste que você era.
E agora que se foi, não sei o que fazer. Teu corpo está rígido e pesado, eu mal posso respirar. Uma lágrima fria arde em meus olhos, mas por quê? Você não merece nenhum sentimento, exceto pelo mais puro ódio, tudo que há de ruim reunido em apenas uma palavra, sem emoção.
A quem eu estava enganando? Sei que não posso ir em frente sem você, que meus dias se tornarão negros e que nunca mais voltarei a sorrir- nem verei teu sorriso tão chamativo... Sei bem o que tenho que fazer.
Peguei novamente a faca, e dessa vez era o meu pescoço que eu cortaria. Sofreria mais essa dor por você, ficaríamos juntos pra sempre. Eu te perdôo por tudo, aceitei em nome do amor, e sei que você também o fez. Apenas negava o que sentia, mas agora que a vida em você tinha se espairecido, finalmente percebera que nossos corações deveriam ser um só.
A luz cintilante apareceu. Meus olhos doem e não vejo nada além de uma clareza sem fim. Não o vejo, não enxergo nada. Procurei por suas mãos e não encontrei. Você não estava ali. Quando percebi, era tarde demais.
Um barulho ensurdecedor me acordou, e estava ensopada de sangue. Eu não sabia o que havia acontecido, mas não era bom. Pessoas vestidas de branco em cima de mim, dizendo pra eu me acalmar, que eu iria ficar bem. Perguntei de você. Era tudo que conseguia pensar. A resposta foi negativa, você tinha ido embora e agora eu conhecia a morte.
Se fosse pra ser assim, teria aceitado desde o começo. Carregarei na alma pra todo sempre, o teu último sorriso. Desejo-te um lugar bom pra descansar, e eu vou seguindo em frente. Sozinha, mas totalmente destruída.